segunda-feira, 30 de maio de 2011

Eu menti. O dilema real é o capitalismo

Ando bem clichezeira ultimamente, mas meu clichê mais recente foi superfurado. O dilema do milênio não é a energia, mas o capitalismo neoliberal, esse daí que todos exaltam, desejam e buscam. Vejam só a questão espanhola, por exemplo. Estava todo mundo na praça pedindo emprego, salário, aposentadoria (tá, democracia também). Mas quem foi às urnas regionais (com enorme abstenção, diga-se) votou na direita neoliberal. É que os socialistas no poder seguem a receita neoliberal, daí a derrota... Vá entender a Espanha! (Para entender o Brasil, o companheiro Ivan Trindade publicou no Teia Livre um texto instigante!)

Não dá pra entender, na verdade, o mundo todo. No poder, o neoliberalismo na política atende cegamente às diretrizes econômicas neoliberais. Decisões de governos e tribunais seguem essas diretrizes. E o que acontece? Desemprego em massa. É a mais valia, estúpido! O patrão quer lucro maior, então vai modernizando a produção a ponto de desfigurar as leis marxistas e... prescindir do trabalhador. E da própria produção. Na crise, então, quer nem saber, demite os poucos que restam. É um círculo vicioso, um looping perverso. Então, por que os governos insistem nesse suicídio?

Não sei se me explico bem: os governos que se sucedem beneficiam as corporações -- e os Estados Unidos são a representação maior desse truísmo -- porque elas dão emprego, mas... elas não dão! (Ou tentam dar cada vez menos.) E os governos acabam reféns delas, às voltas com massas e massas de desempregados... como pode, gente? A literatura e o cinema cansam de mostrar essa burrice oficial coletiva! Há muitos docs famosos sobre a crise de 2008/2009, mas o meu preferido é o Inside job – "o filme que custou mais de US$ 20 trilhões para ser feito" –, do diretor Charles Ferguson (tratei dele aqui). Também adoro o do Michael Moore (Capitalism: a love story). Há outros ótimos, como The corporation (que é de 2003, mas já resumia tudo) ou o ficção-verdade The company men (John Wells, 2010), que baixei noutro dia e me deixou angustiada. Nenhum governante vê tais filmes? (Talvez Lula tenha visto todos...)

Já eu não vejo saída, alguém vê? Ou regredimos nesse capitalismo -- não digo ao feudalismo, hehe, mas a algum estágio mediano que não sei dizer qual, talvez o da Escandinávia pré-queda-do-Muro de Berlim (mas aí não seria capitalismo, né?, a natureza do sistema é buscar mais mais valia...) -- ou chegaremos a Mad Max. Aquele filme foi profético. Não há saída, gente. A não ser que houvesse revolução no mundo inteiro. Revolução?

Só não aposto porque espero estar morta até lá para não ver. Mas penso nos jovens que estarão...

Energia, o dilema deste milênio

Vista aérea da usina de Vattenfall, movida a carvão-lignito (Fabrizio Bensch/Reuters);
à direita, uma usina em Landshut, Bavaria. Isso é que é perigo no quintal! (Michaela Rehle/Reuters)
Achei incrível esta notícia! E agora, que energia vão usar? Carvão, como na foto da esquerda??? Um amigo do Marco fez um gráfico muito interessante, no qual tudo aponta para a nuclear. Claro que me preocupa o risco. Inventam tanta porcaria, por que não uma energia nuclear ou similar segura? Toda essa rejeição se deve à maldita bomba e a esse horror da síndrome da China. Depois dessa, viva Belo Monte! Ridículo pensar em energia eólica ou solar. (Pronto, agora podem me massacrar por todas essas opiniões suspeitíssimas.)
  
A Alemanha se transformou nesta segunda-feira no primeiro país que decidiu renunciar à energia nuclear por causa da catástrofe de Fukushima, no Japão, através de um acordo selado pela coalizão de Governo para desligar até 2022 a última de suas 17 centrais atômicas.

A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou que o pacto garantirá a transição para uma nova política energética baseada nas energias renováveis que garanta a provisão, a estabilidade dos preços, a autonomia elétrica nacional e um maior respeito ao meio ambiente.

O acordo estabelece o fechamento imediato das sete centrais mais antigas do país - que foram paradas de forma preventiva em março - e de outra com problemas de funcionamento, assim como a manutenção das três mais modernas no máximo até 2022.

Além disso, inclui uma cláusula de revisão pela qual, durante o processo de abandono da energia atômica, o Executivo pode decidir antecipar o fim definitivo da produção desse tipo de energia, dependendo do desenvolvimento das fontes renováveis.

A chanceler afirmou que o acordo busca, além disso, que até 2020 as energias alternativas representem pelo menos 40% da produção elétrica nacional e que se reduzam sensivelmente as emissões de CO2.

As legendas da coalizão de Governo - União Democrata-Cristã (CDU), União Social-Cristã (CSU) e Partido Democrático Liberal (FDP) - decidiram, além disso, manter o imposto ao combustível nuclear que os consórcios elétricos com centrais atômicas pagam, com o qual pretendem financiar o desenvolvimento das fontes renováveis.

Este acordo energético será organizado em uma série de normativas específicas que o Executivo começará a redigir e enviar ao Parlamento em forma de projetos de lei a partir da próxima semana.

Por sua vez, o Partido Social-Democrata (SPD) e o Partido Verde se mostraram dispostos a dialogar com o Governo para a tramitação parlamentar destas normas, embora sua reação inicial tenha sido de ceticismo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Um saco esse pânico ideológico, credo...

E o mundo veio abaixo porque a Dilma cismou de reavaliar o kit da Escola Sem Homofobia. Coisas da luta política. Ninguém disse que seria cancelado, mas os portadores da síndrome do "pânico ideológico" de repente dão crédito até ao PIG, a Garotinho, a Bolsonaro e a outros arautos do "pânico moral". Não querem saber, saem matando a Dilma (que, diga-se de passagem, anda meio que mal-assessorada, minha nossa senhora do segundo escalão!). Não querem saber se o governo está em momento delicado, não, simplesmente acionam o modo pânico e saem matando, atirando ao léu pedaços do próprio fígado político, que as matilhas esfomeadas de plantão adoram devorar.

É impressionante que a esquerda de um país de baixa formação política e ideológica, por cinco séculos liderado pelas oligarquias antes rurais, depois rurais E industriais, como bem lembra nosso querido @arnobio1969) não tenha ainda sido capaz de trabalhar sua "paciência histórica", para usar expressão marxista que no Twitter o amigo @francisco_jrRN, do CNS, gosta de aplicar à luta em defesa do SUS...  

Nem o governo cancelou o kit nem os petistas entregaram o ouro. Estamos na luta! Eis, abaixo, a carta aberta que o Setorial LGBT do PT enviou à presidenta. Em vez de pedaços do fígado, que tal atirar pedaços de cérebro aos esfomeados? Em vez do pânico ideológico, que tal divulgar esse texto, cumprir tarefa de conscientização, armar os militantes e simpatizantes de argumentos, convencer a presidenta (e a seus assessores...) de que este é mais um capítulo de nossa luta histórica (sim, do PT e de outras forças pró-avanço na área de costumes) na construção da cidadania? Paciência histórica, amigos. Vamos vencer, disso não há dúvida. Às vezes só demora um pouquinho, pombas.

***

Carta aberta à Presidenta Dilma

Por Julian Rodrigues, Coordenador Nacional do Setorial LGBT – PT
Quinta-feira, 26 de maio de 2011

Presidenta:

Nós, do Setorial Nacional LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) do Partido dos Trabalhadores, instância formal que organiza a intervenção da militância petista na luta anti-homofóbica, queremos dialogar publicamente com a senhora, nossa companheira na construção de um Brasil mais justo.

Gostaríamos de conversar a respeito da polêmica envolvendo os materiais educativos do projeto Escola Sem Homofobia, do MEC (apelidado de “Kit gay”, por conservadores).

Ficamos perplexos com as notícias veiculadas ontem, 25 de maio, informando que a senhora teria, em reunião com a “bancada evangélica”, decidido suspender a disponibilização dos materiais que estão sendo preparados pelo MEC, no contexto das políticas públicas de promoção do respeito à diversidade nas escolas brasileiras.

Admiramos sua vocação democrática, sua competência e seriedade. Sabemos que é preciso ouvir todos os segmentos da sociedade brasileira, buscando composições e sínteses, implementando as políticas públicas com eficácia, pautadas em critérios técnicos.

Nosso Partido é pioneiro no combate à discriminação contra homossexuais e nos orgulhamos do discurso do ex-presidente Lula, já em 1981, repudiando o preconceito. Somos vanguarda na luta pela afirmação da igualdade –criamos, já em1992, o primeiro núcleo LGBT em um partido político no país. Estamos juntos ao movimento social LGBT brasileiro, há anos batalhando contra a discriminação.

A maioria das leis e projetos de leis garantindo direitos à população LGBT, em todo o Brasil, são de iniciativa de parlamentares petistas. Marta Suplicy, já em 1995, propôs projeto de lei que estabelecia a união civil homossexual. Várias resoluções de Encontros Nacionais e Congressos do PT – e também nosso estatuto – ratificam esse compromisso com de combate ao preconceito e a discriminação em geral, e à homofobia em particular.

O ex-presidente Lula fez história, ao criar, em 2004, o primeiro programa governamental – Brasil Sem Homofobia – destinado a promover a igualdade entre todas as pessoas, de qualquer orientação sexual ou identidade de gênero.

Em 2008, o Governo Federal promoveu a 1ª Conferência LGBT, pioneira no mundo. No ano seguinte, foi criado o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos LGBT – depois uma Coordenadoria e, posteriormente, um Conselho Nacional.

A maioria do movimento LGBT organizado e dos ativistas de Direitos Humanos fizeram campanha e votaram Dilma, trabalhando dia e noite pela sua eleição. Acreditamos no aprofundamento das políticas cidadãs iniciadas no governo do ex-presidente Lula.

Contudo, temos de reafirmar: o ESTADO BRASILEIRO É LAICO. Nossa Constituição traz entre seus princípios fundamentais, o combate a toda forma de discriminação, a dignidade humana e o pluralismo.

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal, igualando as uniões estáveis homossexuais à heterossexuais reafirmou esses princípios básicos da Constituição Federal, assegurando a laicidade do Estado. Uma vitória da democracia brasileira.

Nessa mesma direção, enfatizamos a necessidade de aprofundar as políticas públicas que promovam a diversidade e o respeito às pessoas. Não concordamos, em nenhuma hipótese, com a possibilidade dos materiais elaborados pelo projeto Escola sem Homofobia não chegarem a seus destinatários.
Presidenta:

Um governo progressista, protagonizado por um partido de esquerda, dirigido por uma militante com a sua biografia, não pode transigir com princípios fundamentais da democracia.

A senhora tem deixado muito claro, em diversas ocasiões, que não transigirá na Defesa dos Direitos humanos. Pois bem, é disso que se trata. Não se trata de “costumes”, como foi mencionado, mas de direitos civis e políticos, do combate ao preconceito, de políticas pública de promoção da cidadania.

Ficamos muito satisfeitos com o fato de a senhora ter convocado há poucos dias, junto com a companheira Maria do Rosário, a 2ª Conferência Nacional LGBT, uma inequívoca demonstração de continuidade das políticas iniciadas no governo Lula, reafirmando assim o compromisso desse governo com o enfrentamento da homofobia.

O chamado “kit gay” é apenas um singelo material didático, elaborado por especialistas, referendado por entidades como a UNESCO, o Conselho Federal de Psicologia, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, a UNE, a UBES entre outras.
Esse “kit” foi objeto de uma sórdida campanha, cheia de mentiras e distorções, que criou um sentimento de pânico moral em setores da nossa sociedade. A maior parte das pessoas que o repudiam não conhece seu conteúdo. Não há nada de inadequado, qualquer conteúdo sexual, nenhum beijo, nada, absolutamente nada que poderia atentar contra a qualidade educativa do material.

O objetivo do MEC com esse programa é apenas combater o bullying, que causa tanto sofrimento a milhões de “brasileirinhos”, em nossas escolas, fazendo com que muitos se evadam, perdendo o direito humano que têm à educação. O bullying é algo perverso, provoca discriminação, dor, exclusão e até suicídios - pode provocar tragédias.

O Brasil não cederá à chantagem de religiosos homofóbicos, que confundem templo com parlamento, que ignoram a laicidade, o pluralismo e a dignidade humana.

A opinião de alguns deputados fundamentalistas cristãos NÃO É a opinião da maioria do Congresso Nacional, muito menos da maioria da sociedade brasileira. No Congresso, por exemplo, há uma Frente Parlamentar que defende a cidadania LGBT com 175 deputados e senadores.

Presidenta Dilma:

Nós, seus companheiros de Partido e de jornada, ajudamos a elegê-la e também somos responsáveis pelo seu governo. Temos certeza que as políticas de promoção à cidadania LGBT não serão interrompidas.
A democracia brasileira não será chantageada por obscurantistas de plantão. Acreditamos no seu compromisso inabalável com os Direitos Humanos e com a cidadania plena. Seu governo construirá um Brasil melhor para todas e todos.

Apoiamos a continuidade das ações do projeto Escola Sem Homofobia e de todas as políticas inclusivas de seu governo. Sem retrocessos. Solicitamos, portanto, a continuidade imediata da disponibilização do “kit” para as escolas brasileiras.

Não basta combater a pobreza se junto não erradicarmos a violência do preconceito e da discriminação que está ao seu redor. Estarmos certos de contar com sua determinação.

Julian Rodrigues, Coordenador Nacional do Setorial LGBT – PT 26/5/2011

domingo, 22 de maio de 2011

Abaixo a MP 520!

Publiquei no Teia Livre hoje. Espero que os trabalhadores do SUS vençam mais este ataque à estabilidade e ao Regime Jurídico Único.

***

O ministro Alexandre Padilha (@padilhando), da Saúde, foi muito festejado no Twitter depois da entrevista coletiva que deu a blogueiros e tuiteiros (sábado 21/5). Para alguns, entretanto, o que ficou mesmo demonstrado, e bem antes do que se esperava, foi a total incompatibilidade do exercício simultâneo dos cargos de ministro e presidente do Conselho Nacional de Saúde (sobre o tema, ver links no pé deste texto). Padilha defendeu entusiasticamente a empresa hospitalar (ou pública) na gestão dos hospitais universitários (EBSERH) e pediu a aprovação urgente na Câmara da Medida Provisória 520, que regulamenta o modelo.

Ocorre que a MP mereceu moção de repúdio do CNS em janeiro (ver abaixo), como logo lembrou o conselheiro Francisco Júnior (@francisco_jrRN), antecessor de Padilha na presidência do colegiado que é a principal instância do controle social no país. A EBSERH transfere a responsabilidade sobre os hospitais universitários à iniciativa privada, seguindo a lógica privatista da Fundação Estatal de Direito Privado – mas consegue ser ainda pior, como atesta a insuspeita especialista Lenir Santos, defensora intransigente das FE.

Vejam o teor da moção, publicada no CNS e reproduzida em numerosos sites de sindicatos de trabalhadores da saúde, todos contrários à MP 520:
Brasília, 28 de janeiro de 2011

CNS aprova moção de repúdio à MP que cria a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) aprovou, nesta quinta-feira (27), moção de repúdio à Medida Provisória nº 520/2010. A MP foi publicada no dia 31 de dezembro e autoriza o Poder Executivo a criar a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) com a atribuição de prestação de serviços de apoio aos hospitais universitários.

A urgência da medida provisória foi justificada pela necessidade de resolver o impasse dos terceirizados nos hospitais universitários, visto que o acórdão 1520/2006 do Tribunal de Contas da União (TCU) determinava a regularização da situação até 31 de dezembro de 2010 e teve seu prazo prorrogado esperando especificamente uma solução como a definida na proposta MP 520/2010.

Agora, as Universidades Federais poderão celebrar contratos com a nova empresa pública com personalidade jurídica de direito privado para o preenchimento dos cargos, inicialmente com profissionais contratados temporariamente por meio de seleção simplificada, pelo período máximo de dois anos. A EBSERH será administrada por um Conselho de Administração, uma Diretoria Executiva e um Conselho Fiscal e não prevê a participação do Controle Social.

Para o Conselho Nacional de Saúde, a MP 520 desvincula, na prática, os Hospitais Universitários das IFES, com o comprometimento da formação e qualificação dos profissionais de saúde que trabalham na saúde pública, produção do conhecimento na área de saúde, além de ferir o princípio constitucional de indissociabilidade entre ensino, pesquisa, extensão, dado que os Hospitais Universitários são unidades acadêmicas.

Outros prejuízos trazidos pela Medida Provisória referem-se a: precarização da mão de obra, uma vez que estabelece outra relação de trabalho nessas unidades e reforça o processo de terceirização; operacionalização sob a lógica de mercado e, portanto, tendo por princípio tão somente o cumprimento de metas, o que é danoso ao processo de busca da qualidade nos serviços públicos de saúde; financiamento do SUS, dentre outros.

Por considerar, ainda, que o instrumento utilizado - Medida Provisória - ignora os organismos da sociedade, não permitindo o debate com os agentes que construíram e sustentam o SUS, o CNS encaminhará ao Congresso Nacional a moção de repúdio e orienta as entidades a entrarem com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a MP 520/2010.

Francisco Júnior é um otimista incorrigível e convoca todos à luta, militância e usuários, em defesa da gestão profissionalizada e pública das unidades do SUS. Mas o cenário não é bom não. A tendência privatista galopa, enquanto o trabalhador do SUS cala. Pior, ele se despolitiza a olhos vistos. "Culpa" do desemprego, da terceirização e da mercantilização, resumiu Júnior, para quem o processo político é mesmo alienante e desideologizante.

Nesse contexto adverso, se ensaia um protesto o trabalhador é acusado de corporativismo e responsabilizado pela “ideologização do SUS” – como se isso fosse crime. “Diferente da opinião oficial, ou ideologizamos definitivamente o debate sobre o SUS ou não haverá condições de resgatá-lo”, disse o conselheiro num papo pelo Twitter nesta manhã de domingo 22. “Nada é inútil na construção do processo político em busca dos nossos ideais”, convocou. “Paciência histórica!”

Sim, é possível. A pressão dos defensores do SUS engessou no Congresso a proposta das fundações estatais. Vamos derrubar também a 520?

Quanto a Alexandre Padilha, parabéns pela entrevista, muito simpática (cuida dessa tosse, hein?). Agora, que tal executar as deliberações do CNS? É bom para a democracia, para o controle social, para o SUS e para o povo brasileiro!

Eleição no CNS

CNS: todo mundo feliz

Eleição no CNS e o pacote de maldades

O retorno do rei

Acabou a crise do CNS, oba!

O que está pegando no Conselho Nacional de Saúde?

Resposta do presidente do CNS

sábado, 21 de maio de 2011

Panorámica de la acampada en Sol

Panorámica de la acampada en Sol del 20M | lainformacion.com

Para que no roben nuestra democracia


(via @BrunoCava)

Esta é para quem não for arrebatado hoje!

Com a guerra no sangue...

"


Achei estes vídeos no Youtube. Há dezenas assim, de escoceses, irlandeses, ingleses, desfilando em diferentes cidades, sempre festejados nas ruas ou nos estádios por sua volta ao país vindos da guerra no Afeganistão. Só vi um de protesto. Nunca, nunca na vida imaginei que o povo apoiasse a participação do UK na guerra a ponto de ir aplaudir soldado em parada militar... Vá entender os britânicos...

domingo, 8 de maio de 2011

Amal dá um pau na CIA

Do blog Sem Fronteiras, do Maierovitch (8/5/2011):

Viúva de Bin Laden faz revelações bombásticas que colocam CIA em embaraço

–1. Osama bin Laden, 57 anos, casou cinco vezes. Segundo estimam os serviços de inteligência do Ocidente, teve de 18 a 24 filhos. Quanto aos netos, perto de 80.

Seu último casamento foi com Amal Ahmed Abdulfattah em 2002, quando estava sob proteção tribal.

Na ocasião, Amal, nascida no Iêmen, tinha 19 anos de idade.

Como todos lembram, depois dos ataques covardes de 11 de setembro de 2001, a Central Inteligence Agency (CIA), totalmente desmoralizada, começou a vazar informações para mostrar que tinha boas pistas para chegar à captura de Bin Laden.

Uma pista “plantada” na mídia pela CIA dizia respeito ao precário estado de saúde de Osama bin Laden.

Para a CIA, o terrorista tinha insuficiência renal e necessitava se submeter a hemodiálises. Assim, diziam os 007 da CIA todos os hospitais do Afeganistão e Paquistão estavam sob controle.

Com o passar do tempo e nada de Bin Laden aparecer em hospitais, a CIA colocou na mídia a informação de que na caverna onde se escondia o terrorista havia um equipamento de hemodiálise.

Amal, que saiu ferida na perna (ou pé) quando do assalto à casa onde se escondia Bin Laden, prestou declarações às autoridades paquistanesas e a CIA recebeu algumas informações desmoralizantes. Ela estava no dormitório com Bin Laden e disse que tinham acabado de apagar a luz para dormir quando o casal ouviu disparos no primeiro andar da casa.

A viúva Amal disse que Bin Laden gozava de ótima saúde e plena mobilidade. E que bem antes de 11 de setembro de 2001 o terrorista tinha tido problemas com os rins, mas, depois de uma cirurgia realizada em Kandahar, ficou curado. E Bin Laden morava em Kandahar quando fez a mencionada cirurgia.

Como se percebe, as informações espalhadas pela CIA, logo depois dos covardes ataques de 11 de setembro e sobre Bin Laden, eram mentirosas.

Amal disse que Bin Laden não tomava remédios para tratamento dos rins. Afirmou, no entanto, que o marido comia muita melancia e dizia ser um “ótimo remédio para evitar problemas com os rins”.

–2. Do relato de Amal às autoridades do Paquistão, a CIA já está ciente que Bin Laden estava nas montanhas de Tora Bora em 2001 quando os EUA e aliados promoveram intenso bombardeamento, inclusive com bombas penetrantes para alcançar cavernas.

Para a viúva Amal, o terrorista Bin Laden teve muita sorte ( Alá é grande, teria dito em relato feito a ela) e quase foi atingido pelas bombas.

Depois de fugir de Tora Bora, sempre segundo Amal, o príncipe do terror ficou sob proteção tribal, na fronteira entre Afeganistão e Paquistão.

Em 2003, Bin Laden deixou a proteção tribal e foi morar no Paquistão. E Bin Laden, consonte Amal, escolheu a pequena cidade de Chak Shah Mohammed Khan para morar. Essa cidade é vizinha a Haripur (consta do mapa), ou seja, fica cerca de quarenta minutos de automóvel de Islamabad, capital do Paquistão.

A mudança para a cidade de Abbottabad deu-se no final do ano de 2005. E a viúva Amal destacou que Mohammed Arshad, seguidor fiel de Bin Laden, comprara, em 22 de janeiro de 2004, um terreno em Abbottabad, no bairro de Bilan Town. E nesse terreno foi erguida a casa onde Bin Laden restou morto no dia 1 de maio passado.

PANO RÁPIDO. Em razão do teor do depoimento da viúva Amal, o governo Barack Obama, conforme ontem este blog Sem Fronteiras de Terra Magazine informou, quer a sua extradição por cumplicidade.

–Wálter Fanganiello Maierovitch–

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Data histórica da cidadania brasileira!

Neste 5 de maio, o Supremo deu aula de cidadania ao votar em peso pela legalidade da união homoafetiva. Brilhantes os votos do relator, Ayres Britto, do Marco Aurélio (o ministro, não o meu filho) e do Celso de Mello! Ficarão para a história! Delícia ver CNBB e todos os crentes retrógrados postos em seu devido lugar! Um deles entrou nos trending topics do Brasil e do mundo!

Agora, Congresso Nacional, cumpre teu papel de legislador, sai dessa caverna trevosa em que te mantém a bancada da beataria, vota logo o direito ao aborto e ao casamento homoafetivo e coloca as leis do país no compasso da sociedade!

Grande dia pro Brasil! Aqui, os direitos alcançados pelos vitoriosos!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

E essa, agora? Paquistão ajudou mesmo!

As extraordinárias montanhas Karakoram
e a estrada paquistanesa que leva à China 
Mas fica bem quietinho para evitar a fúria alkaidista! Muito interessante a matéria da Strategic Review! 


Osama: morte intrigante (e oportuna)

MK Bhadrakumar, Strategic Review, 3/5/2011

Tradução: @VilaVudu

Os EUA procuram desesperadamente meios e modos para mitigar o isolamento regional de Israel, no contexto dos levantes populares no Oriente Médio.

Considerem a ironia da coisa. Osama bin Laden foi finalmente apanhado, não em áreas selvagens e sem lei do Afeganistão, mas na aprazível cidade de Abbottabad, a menos de 50 quilômetros de distância dos quartéis militares em Rawalpindi. Desde os tempos da colonização britânica, Abbottabad é tradicionalmente cidade de alta concentração de militares aposentados. Há ali uma base da Segunda Divisão Norte do Exército do Paquistão. A casa de Bin Laden, de dois andares, com muros de mais de 3m de altura no distrito residencial de Abbottabad, a poucas centenas de metros de um quartel, tem todas as características de “casa de segurança” da inteligência do Paquistão.

Make no mistake (como gosta de dizer o presidente Obama), sobre esse caso: a operação para matar bin Laden foi operação conjunta de forças especiais do Paquistão-EUA. Não há meio concebível pelo qual os americanos conseguiriam andar naquela região do Paquistão, sem conhecimento da inteligência local (além do mais, Abbottabad é passagem da sensível “rota” até a estrada Karakoram que leva à China). Em nenhum caso os EUA teriam acesso à informação de inteligência “em tempo real” de que bin Laden estaria nos arredores de Abbottabad, sem envolvimento direto das agências paquistanesas.

Mas a grande pergunta é por que, afinal, o comando militar do Paquistão teria decidido entregar bin Laden – e a ocasião da entrega. Tudo depende da resposta que se dê a essa questão. Para responder, é preciso considerar que bin Laden sempre foi “a carta trunfo” com que contavam os militares paquistaneses, a ser jogada em momento oportuno. Falando em termos históricos, a inteligência e os militares paquistaneses sempre cuidaram de modular muito atentamente suas relações de trabalho com o Pentágono e a CIA. Muito evidentemente, os militares paquistaneses entenderam que um favor prestado ao presidente Barack Obama, nesse preciso instante, aumentaria muito as possibilidades de obter bom negócio, no “retorno”.

A opinião pública nos EUA já está definitivamente contra a guerra do Afeganistão e absolutamente insatisfeita com o modo como Obama administra o conflito. Obama carece desesperadamente de alguma história de “sucesso” no Hindu Kush. E bin Laden é questão de alto conteúdo emotivo para o público norte-americano. Daqui em diante, por algum tempo, Obama surfará gorda onda de fervor patriótico nos EUA, de onde podem advir dividendos interessantes com vistas à reeleição em 2012.

No que tenha a ver com a liderança dos militares paquistaneses, o que mais interessa nesse momento é que começa a delinear-se o fim da guerra do Afeganistão. Nunca antes o Paquistão esteve tão próximo de alcançar o seu objetivo, de conseguir “profundidade estratégica” no Afeganistão – o que tem a ver com reintegrar os talibãs à estrutura de poder em Kabul. Para conseguir isso, o consentimento dos EUA é pré-requisito vital. E, ultimamente, tem havido tensões sempre crescentes nos contatos entre militares e inteligência dos EUA e do Paquistão. O assassinato de bin Laden é como um teste limite, para que os EUA possam aferir a confiabilidade, como aliados, dos militares paquistaneses. Em resumo: serviço feito e entregue, os militares paquistaneses passam a esperar a recompensa que Obama lhes deve.

Não cabe dúvidas de que Obama terá de recompensar o risco grave que os militares paquistaneses assumiram, ao aceitar colaborar na ação para matar bin Laden. É praticamente certo que a al-Qaeda atacará com fúria o Estado paquistanês, na sequência do que será definido como ato de “traição” a bin Laden cometido pelos militares paquistaneses. Outra vez, o xis da questão está em que bin Laden é questão também altamente emocional para o povo paquistanês, e as circunstâncias violentas em que foi morto podem criar situação política explosiva. Ninguém duvide que Obama terá de recompensar o Paquistão, sobretudo os militares, assegurando-lhes o apoio dos EUA, que tanto fizeram por merecer.

Os vários grupos guerrilheiros que operam nas áreas tribais da região de fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, que sempre sustentaram a al-Qaeda, também buscarão vingança contra os militares paquistaneses. Claro que os militares paquistaneses, tradicionalmente cautelosos, sopesaram os prós e contras, antes de tomar decisão que, como todos sabiam, desencadearia tempestades terríveis na opinião pública local. 

Mas a autoconfiança também se explica, de certo modo, dado que desde ontem ao final do dia os partidos paquistaneses do “Islã Pasand” também fazem jus às recompensas, porque são patrocinados pelo establishment militar (e altamente vulneráveis a chantagem política). Mais uma vez, e retórica à parte, as elites políticas e a aristocracia feudais paquistanesas aí estão, como sempre, mendigando qualquer apoio dos EUA, por mínimo que seja. Em nenhum caso se atreveriam a terçar lanças com os militares sobre questão de que depende a própria existência daquelas elites políticas e aristocracia feudais.

Por tudo isso, é sumamente significativo que a declaração de Obama sobre o assassinato de bin Laden tenha deliberada e declaradamente reduzido a importância da cumplicidade dos militares paquistaneses na operação das Forças Especiais. Significa que Obama vê o quanto é criticamente importante para os dois lados que se preservem relações de trabalho produtivas entre EUA e os militares paquistaneses, no difícil período que se inicia. Por isso, é importante que Washington não se ponha a dizer coisas que criem problemas locais para os militares paquistaneses ou que tornem a situação ainda mais precária para os generais em Rawalpindi.

E o que significa, para a segurança regional, essa espécie de condomínio que EUA e Paquistão começam a construir? Devem-se considerar três fatores. 

Primeiro, Obama tem agora mão relativamente livre para implantar sua estratégia afegã. E EUA e Paquistão, agora, têm um ponto de contato, dado que EUA e Paquistão querem que a guerra do Afeganistão acabe imediatamente. 

Mas a prioridade de Obama é deixar no Hindu Kush (região onde se cruzam fronteiras de China, Rússia e Irã) uma presença militar de EUA e OTAN, de longo prazo – prioridade que se integra nas estratégias globais dos EUA –, mas sem que soldados norte-americanos e europeus lá tenham de ficar, morrendo e inflamando a opinião pública nacional nos países ocidentais. 

Por seu lado, o Paquistão deseja a reintegração dos Talibã. No pé em que estão hoje, são objetivos conciliáveis. Pode-se agora esperar que EUA e Paquistão cheguem mesmo a alcançar um modus vivendi no qual sejam atendidos e acomodados os interesses dos dois lados.

Segundo, as prioridades de política externa de Obama estão sendo dirigidas para o Oriente Médio, área pivô decisiva para as estratégias globais dos EUA para o século 21. O Paquistão pode desempenhar papel importante na defesa da segurança dos regimes “pró-ocidente” em toda a região do Golfo Persa. Já há na ativa cerca de 30 mil mercenários paquistaneses (incluído aí alto número de ex-soldados), operando hoje na segurança do ditador sitiado do Bahrain. 

A situação de máxima ameaça para a estratégia regional dos EUA no Golfo Persa acontecerá se o regime na Arábia Saudita começar a ser seriamente ameaçado. 

Os EUA não podem ocupar militarmente e ostensiva e diretamente a Península Arábica, onde estão Meca e Medina. Mas o Paquistão – país de sunitas, muçulmanos pios, com exército gigante e poderoso, pode. 

Quer dizer, os EUA veem o Paquistão, depois de varridas de lá as preocupações com a Al-Qaeda e a guerra afegã, como eficiente “provedor” de segurança para todos os aliados dos EUA no Golfo Persa.

Desnecessário dizer que a Arábia Saudita sente-se muito aliviada com a eliminação de bin Laden nesse preciso momento crucialmente decisivo. (Fator interessante a considerar é o muito que o regime saudita pressionou a liderança militar paquistanesa para que se livrasse de bin Laden.)

Terceiro, as políticas dos EUA de intervencionismo e unilateralismo ganham importante impulso. O assassinato de bin Laden é como o acerto de contas de justificação, uma espécie de vingança, da chamada “guerra ao terror” em que embarcou George W. Bush. Sob o pretexto de combater as forças do terrorismo, os EUA puseram-se a invadir estados soberanos – Iraque e Líbia. 

Agora, fosse qual fosse a oposição que a opinião pública norte-americana já farta de guerras tivesse a fazer contra o establishment em sua marcha imperial, acabará dissipada no novo clima de patriotismo fanático que embriaga os EUA [e embriaga também todos os jornalistas e comentaristas brasileiros da Rede Globo, mais ‘nacionalistas patrióticos’ e fanáticos a favor dos EUA, do que qualquer Sarah Pallin! [risos, risos] (NTs)]. 

À medida em que a crise econômica agrava-se e aprofunda-se no mundo capitalista, sempre lá estará, ativada, a possibilidade de inventarem-se guerras em países periféricos. A história moderna está cheia de exemplos. A opinião da direita nos EUA ganhará espaço, no clima de guerra; e ela sabe, como ninguém, exigir intervenções militares cada vez mais robustas.

Para dizê-lo em poucas palavras, a probabilidade de ocupação prolongada no Afeganistão e no Iraque, e de erupção de conflito militar com o Irã, aí estão e são grandes. 

Os EUA procuram desesperadamente meios e modos para mitigar o isolamento regional de Israel, no contexto de levantes populares no Oriente Médio. O processo de paz no Oriente Médio está num beco sem saída. Simultaneamente, a chamada “Primavera Árabe” ameaça semear em vários pontos revoluções semelhantes à egípcia, onde o regime sucessor, atento à opinião pública, já trabalha consistentemente de costas para as políticas pró-EUA e pró-Israel que fizeram a fortuna de Hosni Mubarak. 

Pelos mesmos motivos, os governos da Síria e do Irã passarão a enfrentar descomunal pressão, pelos EUA, nos próximos meses. 

Interessa às políticas regionais dos EUA no Oriente Médio muçulmano forçar a polarização entre grupos sectários – pintando os conflitos como se algum “salafismo” estivesse sendo atacado por algum “xiismo” ressurgente. É truque garantido para desviar a atenção dos processos históricos que, sim, ameaçam a sobrevivência dos regimes pró-EUA na região. Já se veem os primeiros sinais do “revide contrarrevolucionário”. O assassinato de bin Laden, nessa conjuntura crucial, livra os EUA do peso da guerra afegã e prepara o cenário para a nova guerra da hora, no processo para inventar um “novo Oriente Médio”. O assassinato de bin Laden não poderia ter sido planejado para ocorrer em momento mais oportuno.

O discurso pró-tortura se alastra

Imagem daqui
Tuitei ontem post do Andrew Sullivan, do Daily Beast, desmontando a "Big Lie" sobre o peso da tortura na descoberta do mensageiro de bin Laden, personagem-chave para a execução do terrorista (aqui, aqui e aqui). Peso que, diga-se, pelo que li até agora, foi NENHUM. Na segunda (2/5), postei lá no Facebook:
"Mais uma: John King na CNN insiste e ouve de ex-diretor da CIA que a informação sobre a casa de bin Laden veio do interrogatório de um prisioneiro pela CIA. Tá posta a mesa para a defesa da tortura à Langley. 
Hoje, é a Fair que traz o assunto. Na minha humirde, um dos mais importantes do episódio. Se o waterboarding for considerado prática-chave para o que quer que seja, viro ermitã DE VEZ. Nem considero a matéria da Fair espetacular (falta-lhe indignação), mas traduzi porque enumera as várias menções ao assunto (embora tenha omitido a do King, que eu vi) até por gente insuspeita, como o Dana Milbank do W.Post; pelo conjunto da obra, ele tinha obrigação de apurar antes de escrever asnice. Bem, eis a matéria da Fair:

O waterboarding "funcionou"?
Mídia passa mensagem pró-tortura

Alguns dizem que as informações que levaram ao esconderijo de Osama bin Laden no Paquistão foram geradas pelo uso de tortura. Mas as evidências disponíveis até o momento não confirmam isso.

Defensores direitistas da tortura falam em vingança. Na Fox News, no programa O'Reilly Factor (2/5/11), o deputado Peter King (R-NY) anunciou que
obtivemos informações vários anos atrás, informação vital sobre o estafeta de Obama [sic] [gente, como pode um ato falho assim tão evidente?]. Obtivemos a informação através da simulação de afogamento. Assim, para aqueles que dizem que "waterboarding" não funciona, que deve ser interrompido e nunca mais usado -- com ele tivemos a informação vital que conduziu diretamente a bin Laden.
O'Reilly proclamou: "Você não vai ouvir isso em outras redes, eu garanto."

Na verdade, a falácia de que essa tortura pode ter revelado a identidade do mensageiro de confiança de bin Laden tem sido muito ouvida. No CBS Evening News (2/5/11), o repórter David Martin disse: "Informações saíram de prisões secretas da CIA onde os prisioneiros da al-Qaeda foram waterboarded".

E o repórter Jonathan Karl, do ABC World News, recorreu à perícia de Dick Cheney (2/5/11):
Karl: Uma questão-chave, sugere Cheney: o programa avançado de interrogatórios da CIA, que Obama suspendeu porque incluiria tortura. Uma dica precoce levando ao mensageiro de bin Laden veio de alguns desses interrogatórios.
Cheney: Tudo que sei é o que vi no jornal, mas não seria surpreendente se, de fato, o programa produziu resultados que, em última análise, contribuíram para o sucesso desse empreendimento.
O Los Angeles Times (2/5/11) relatou:
Informações cruciais sobre o mensageiro de confiança do complexo surgiu anos atrás em interrogatório da CIA com o cérebro do 11/9, Khalid Sheikh Mohamed, disse o funcionário. Isto é significativo porque o cérebro da al-Qaeda foi submetido a afogamento e outros métodos brutais de interrogatório.
O colunista Dana Milbank, do Washington Post, observou (3/5/11) que Obama matou Osama Bin Laden "com um aparente apoio da administração Bush, o programa de interrogatórios". E no Today da NBC (3/5/11), Jim Miklasziewski relatou:
Autoridades dos EUA disseram ao NBC News que o cérebro por trás do 11/9 Khalid Sheikh Mohammed, enquanto sob custódia da CIA, forneceu informações fundamentais sobre o mensageiro de bin Laden. Obtidas, por vezes, com técnicas de interrogatório agressivas, como o afogamento.
Mas os detalhes conhecidos até agora não apoiam o argumento de que a tortura tenha produzido qualquer informação-chave. Como Jane Mayer, da New Yorker, escreveu (2/5/11):
Se o interrogatório da CIA tivesse sido suficiente, o governo dos EUA teria localizado bin Laden antes de 2006, quando terminou a custódia da CIA desses chamados "detentos de alto valor". Este cronograma não parece oferecer grande apoio ao discurso pró-tortura.
O blog Think Progress (3/5/11) observou que funcionários do governo contestaram essa idéia de que as informações críticas vieram de sessões de tortura:
Hoje de manhã, no Morning Joe da MSNBC [3/5/11], John Brennan, conselheiro sobre contra-terrorismo de Obama, confirmou que as informações obtidas ao longo de nove anos não vieram de waterboarding, mas foram montadas a partir de múltiplas fontes.
O New York Times ( 4/5/11), entrevistando fontes de inteligência, informou que "um olhar atento aos interrogatórios de prisioneiros sugere que as técnicas duras desempenharam pequeno papel, no máximo, na identificação do mensageiro de confiança de bin Laden."

Mais importante, o Times observou que "dois presos submetidos aos mais duros tratamentos -- incluindo Khalid Shaikh Mohammed, que foi waterboarded 183 vezes --, enganaram repetidamente seus interrogadores sobre a identidade do mensageiro".

Telegrama da Associated Press (2/5/11) informou que
Mohammed não revelou nomes ao ser submetido à técnica de simulação de afogamento conhecida como "waterboarding", disse o ex-funcionário. Ele o identificou muitos meses mais tarde, sob interrogatório normal, segundo ele, deixando mais uma vez em debate se as técnicas duras são ferramenta valiosa ou tática desnecessariamente violenta.
Este "em debate" é estranho, dado que as provas sugerem que o lado pró-tortura do "debate" pouco tem para apoiar sua defesa. E essas discussões servem para reafirmar um discurso da mídia que tenta normalizar a tortura, tornando-a um debate que prioriza os resultados -- ou seja, será que funciona? -- sobre a legalidade e a moralidade. (Ver Extra!, 1-2/02).

Kiran Chetry, da CNN (3/5/11), perguntou o seguinte à ex-conselheira de segurança nacional de Bush, Condoleezza Rice:
Coisas como interrogatório avançado perderam apoio. O atual governo disse que suspendeu essas práticas controvertidas, como a simulação de afogamento, que eram aceitas no governo Bush. Outra coisa são os black sites, locais de interrogatório da CIA ao redor do mundo. Tudo isso recebeu inúmeras críticas. Quanto mais vazam informações sobre se essas estratégias desempenharam papel fundamental para matar Osama bin Laden, o atual governo deveria reavaliar o governo Bush?
A par de reavaliar a administração de Bush, há muitas vozes na mídia sugerindo que deveríamos reavaliar a questão da tortura como prática aceitável para o governo dos EUA. Só nos resta esperar que os meios de comunicação tratem o assunto com mais cuidado do que no passado.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Farsas e humilhações

Vamos especular um pouco sobre efeitos da operação e a situação do ISI, cuja sede fica em Islamabad, pertinho de Abbottabad, onde Bin Laden foi fuzilado. Primeiro, o que seria mais últil na chamada "guerra ao terror", prender e julgar Bin Laden com grande estardalhaço ou jogá-lo ao mar? Se eu fosse um jovem jihadista cheio de ódio para espalhar é lógico que ficaria bem desestimulado com a exposição de meu líder num tribunal internacional -- lembram da triste figura do Saddam Hussein? Não é suspeito esse alegado fuzilamento? Sem um corpo para exibir há prova tangível ou é tudo uma grande farsa? Só serve para barganha política, porque nosso jovem jihadista pode bem estar a essa altura com mais ódio ou pode simplesmente dizer, ah, mais uma mentira dos americanos.

E a situação dos paquistaneses? Gente, que humilhação! Vi na Jazira um cidadão dito responsável por relações entre paquistaneses e britânicos (um velhinho quase gagá, diga-se) afirmando que os paquistaneses ajudaram na operação. Obama e John Brennan, conselheiro da Casa Branca, garantem que nenhum país foi informado previamente da operação. "Mas nossa amizade com o Paquistão é estreita", diz Brennan. Hahaha. Tá, entendo ser impossível confiar no ISI, são corruptos e golpistas, alguns deles devem ser até alqaidistas, mas pelo menos o presidente e um milico de alta patente deveriam ter autorizado, não? Aqueles malucos têm bomba, caramba! Isso é de uma insensatez sem tamanho. Aliás, nada faz sentido ali naquela região.

Ah, e ver a cara de moleque ressentido do Karzai na TV, tá vendo, eu disse que o Afeganistão "não é um lugar de terrorismo" foi engraçado demais. Ah2: e os setoristas da Casa Branca interessados nos detalhes dos procedimentos religiosos antes de jogarem o corpo do Bin Laden ao mar na entrevista do Brennan? Vou te contar. Imprensa beata é dose.

O mundo em 2011 mais pra 1011

Azenha diz que Osama caminhava para a irrelevância. CNN diz que Osama nem comandava mais as operações. Acho que tudo isso se aplica a um quase homônimo, o Obama. Vai poder faturar em cima. (Bem, pelo menos não é o Bush...) O mundo em 2011 tá mais pra 1011: casamento real, beatificação de ex-papa, execução chamada de "justiça", presos políticos nas masmorras. O texto abaixo, que @VilaVudu traduziu, fala um pouco do futuro da Qaeda.

(Ei, acho o Osama um fanático detestável, viu? Ei2, clique na imagem que tem animação.)

Al-Qaeda pronta para reinicar a guerra

3/5/2011, Syed Saleem Shahzad, Asia Times Online

Islamabad. A partir de hoje, a Al-Qaeda passa a ser comandada por um colegiado de altos comandantes que já estava definido desde muito antes da morte de Osama bin Laden, assassinado nas primeiras horas de ontem, em ataque de forças especiais do Paquistão e EUA, em Abbottabad, cerca de 65 quilômetros ao norte de Islamabad, capital do Paquistão.

O assassinato de Bin Laden, 54 anos, cuja cabeça valia prêmio de 50 milhões de dólares, marcará, segundo informantes da organização ao jornal Asia Times Online, o início da transferência do teatro de guerra, do Afeganistão para o Paquistão.

Contatos do jornal Asia Times Online na área tribal do Waziristão Norte – celeiro de militantes – confirmaram que já houve várias reuniões na cidade de Mir Ali, para formular estratégias. Todos confirmaram imediata ação de retaliação contra o Paquistão e o fim de todos os acordos de cessar-fogo firmados com os militares paquistaneses e ainda vigentes.

Os EUA procuraram por Bin Laden, sempre sem sucesso, desde que ele deixou o Afeganistão, quando os EUA invadiram o país, em 2001, para guerra de extermínio contra os Talibã, em retaliação pelos ataques do 11/9/2001 em Nova Iorque e Washington. Bin Laden e sua al-Qaeda planejaram aqueles ataques, durante o tempo que viveram como hóspedes dos Talibã.

“Posso informar ao povo dos EUA e do mundo, que os EUA executaram operação que matou Osama bin Laden” – disse da Casa Branca o presidente Barack Obama, também comandante-em-chefe dos exércitos dos EUA. – “Houve troca de tiros, antes de matarem Osama bin Laden e assumirem a custódia do cadáver” – Obama prosseguiu. – “A morte de bin Laden assinala o mais importante feito de nossa nação, até o presente momento, em nossos esforços para derrotar a al-Qaeda.”

Há notícias de que também foram assassinados um dos filhos de bin Laden, duas de suas esposas e vários auxiliares, no ataque que incluiu helicópteros armados com metralhadoras.

O assassinato de Bin Laden foi confirmado pela inteligência do Paquistão. O tenente-general Ahmad Shuja Pasha, diretor-geral do Inter-Services Intelligence (ISI), disse que a inteligência do Paquistão sabia do plano e participou de todo o processo.

Os EUA puseram em alerta todas as embaixadas no mundo e avisaram os cidadãos, da possibilidade de haver retaliações. Esses alertas confirmam informações que Asia Times Online obteve de várias fontes, segundo as quais o assassinato de Bin Laden provocará o reinício de ações do terrorismo internacional contra capitais do ocidente, suspensos desde o início da grande revolta árabe de 2011.

No final do mês passado, Bin Laden avisou que a al-Qaeda desencadearia um “inferno nuclear” se ele fosse capturado, segundo telegramas diplomáticos secretos publicados por WikiLeaks.

Obama disse que a CIA sabia desde outubro de 2010 que estava mais próxima de encontrar a trilha que a levaria a Bin Laden, e que o alvo já aparecia nos radares da inteligência desde o início de 2011, notícia inúmeras vezes divulgada por Asia Times Online:

“Depois de prolongada pausa, a CIA-EUA reiniciou várias operações clandestinas nas montanhas escarpadas do Hindu Kush, pelo Paquistão e Afeganistão, seguindo uma repentina onda de informes de que Osama bin Laden, líder da al-Qaeda, andaria pela área, indo e vindo nas últimas semanas, para várias reuniões de alta cúpula em redutos dos militantes” (“Bin Laden volta a disparar os alarmes”, 24/3/2011, em português).

Os próximos passos

A partir dos levantes populares no Oriente Médio e Norte da África, Bin Laden entrou em ação, para construir uma frente unida dos quadros islâmicos do Paquistão e do Afeganistão, na batalha afegã contra os EUA. Por isso, viajou recentemente ao Afeganistão, para reunião com Gulbuddin Hekmatyar, o legendário comandante mujahid afegão e fundador e chefe do partido político e grupo paramilitar afegão Hezb-e-Islami, e vários outros altos comandantes jihadis. Acredita-se que se tenha deslocado há cerca de dez dias para Abbottabad, de onde estaria às vésperas de sair, várias fontes informaram a Asia Times Online.

As mesmas fontes dizem que o conselho (shura) de comandantes da al-Qaeda passam automaticamente a comandar a organização, até que, adiante, escolha-se outro comandante. Há à espera uma nova geração de comandantes, entre os quais Sirajuddin Haqqani, Qari Ziaur Rahman, Nazir Ahmad e Ilyas Kashmiri, que se uniram à al-Qaeda.

Ao longo dos últimos anos, Bin Laden já se convertera mais em figura popular icônica e deixara a função de comandante de guerra – muitas ações já estavam entregues ao comando de seu representante, Dr. Ayman al-Zawahiri, egípcio, e a outros ideólogos. Por tudo isso, nada autoriza a pensar que haja alguma modificação importante nos processos e mecanismos operacionais.

Consideradas as informações e os muitos contatos que esse jornal mantém com líderes da al-Qaeda, não temos qualquer dúvida de que a Operação Osama Bin Laden marca a transferência do principal teatro de guerra, que sairá do Afeganistão e invadirá o Paquistão; e que todos os esforços já empreendidos para reconciliar os militantes paquistaneses e o governo do Paquistão voltarão à estaca zero. A partir de agora, a al-Qaeda passará a ter como inimigos declarados, além dos EUA, também todo o establishment militar paquistanês.
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